quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Desentendimento


Tenho vivido a pensar
Na forma como tenho vivido.
Quão irremediáveis são as decisões tomadas,
Que em nenhuma altura deixam espaço para que outras ressurjam.
Procuro encontrar relações entre os momentos, as pessoas, os lugares…
Não aceitando que o que está desligado faz mais sentido.
Dou por mim com a consciência exacta dos movimentos involuntários do meu corpo,
Tentando, dessa forma, dissipar o inconsciente que se assume.
Engraçada a proporção que assumem as vivências, sem que nada possa ser feito para emendar.
Planeamos, pedimos, alteramos e não vivemos,
Pois desperdiçamos muito tempo a pensar em como temos vivido
E não vivemos para pensar.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

AGITAÇÃO


Se pudesse seria o vento,
Pela duplicidade com que se evidencia:
Tirano, arrasador, prepotente, majestoso,
Brisa suave, refrescante, carícia e melodia.
Sacode – me permitindo a sensação de liberdade asfixiada pelo dia,
Atemoriza-me com a força da sua súplica, em cada noite que me sinto vazia.
Ele que tudo pode com a força que, inerentemente, lhe foi atribuída,
Destruindo, à sua passagem até a mais remota ferida.
Urra com a violência que obrigo, não consentindo o abafo do bramido.
Que a minha voz fosse, à tua imagem,
Cavada e soberana, não esmorecendo com a certeza do que é capaz de fazer.
Com a mesma força tomaria fortes e fracos, lutadores e derrotados, amantes e amados,
Com a mesma força me sentiria viver.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

MARIPOSA

Uma borboleta que voa
Uma amiga que magoa
A outra sabe perdoar.
A distância que acontece
É tão natural que parece
Nunca mais acabar.
Dás voltas e voltas ao mundo
E nada de tão profundo
Irás jamais encontrar.
Uma amiga que adora
Uma outra que às vezes chora
A vida não pode parar.

DECESSA

Cada pedaço daquilo que somos

Resume-se apenas a um grito, um choro, um sufoco…
A vida, que termina e recomeça,
Deixa-nos cientes de tudo aquilo que não vivemos.
As pessoas que deixamos, o beijo que ficou por dar
O abraço que se perdeu no ar…
E os pedaços perecem!
Cada segredo é sussurrado para que só alguém especial o perceba,
O entenda, o guarde e o leve para a eternidade,
Que não é mais do que o continuar do fim.
A vida acabou, tudo ficou por dizer, tanto ficou por viver….
A oportunidade passou simplesmente!

INSÂNIA

Não penso haver nada de mais insano do que a própria loucura,

Insano para quem a sente,
Insano para quem a nota,
Insano porque não se vê,
Insano porque se vive intensamente!
É um dedo que aponta bem na tua cara,
Não é mais do que uma crítica
Que manifesta a certeza de cada dúvida.
Caracteristicamente pertence a alguém.
Loucos são todos os que a recusam,
Pois os sãos usam-na como forma de vida.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

RUÍNA


Experimento toda a vida do meu corpo,

O sangue circula cada vez mais impetuoso dentro de mim.
Contrariamente, todos os meus membros entorpecem
Como se tivessem sido extintos.
Reflexo de um pensamento estranhamente nebuloso
Vadiando na esperança de se encontrar
Andando cada vez mais perdido.
Morte, que te julgas invencível,
Que te crês a mais derradeira ameaça
Mas que nada podes contra o que sinto.
Destruí-me para que não o pudesses fazer,
Não quis comedir forças contigo, mas sei que te derrotei,
Pois já nada mais há para arruinar.

sábado, 3 de outubro de 2009

ENTIDADE


Chegados determinados momentos

Nenhum prazer será tão satisfatório como o esquecimento.
Passada a culpa, a raiva, a angústia,
Cada uma sendo de sua forma um tormento,
Torna-se demasiado doloroso cada pensamento.
Aquelas perguntas que jamais alguém saberá responder,
Os sinais que mostram o que, gritando, se tenta esconder,
Toda a certeza de que dúvida é perdoar
E a consciência de que voltas a errar.
Quando é que eu e tu deixamos de ser nós?
Quando é que perdi a capacidade de elevar a minha voz?
A vida, certeza que as interrogações surgirão,
A vida, pedaço de ti que te tira a razão.